Sunday, April 11, 2010

VAI, MÃE! VAI!


Vocês sabem que tenho paciência mínima para pessoas.

Outro dia mesmo, no trabalho, tem esse moleque brega que quer agradar a todo mundo; o maior puxa saco, isso sim. Eu e o moleque estávamos na videoteca organizando fitas, quando ele lança:

- Posso colocar música pra gente ouvir?
- Pode. – Eu respondo.
- O que você gosta de escutar?
- Nada que você possivelmente tenha no seu iPod.

- Como você sabe que eu não tenho nada do que você gosta?
- Porque você é brega.

Silêncio desconcertante.

- Sem ofensas. Eu sou muito particular com o que escuto. Eu e você não fazemos parte do mesmo mundo. Você está no esquema puxa-saco, maconha, faculdade e Bob Marley. Eu não. Nós não vamos gostar das mesmas coisas. Desiste.
- Você tá falando que não temos nada em comum?
- Isso. E eu julgo as pessoas pelo que elas escutam.
- Isso é errado. Só porque eu não sou parte de uma certa cena, não quer dizer que eu não seja parecido com você.
- Escuta, eu não tô falando que você é pior que eu. Você é diferente. Só isso. Um dia eu vou morrer, não vai demorar muito. Aí eu vou olhar pra trás e pensar “Putz, eu desperdicei anos preciosos da minha vida com gente que não tinha nada a ver comigo”. É filosófico isso, sabe?

Ele continuou a argumentar como se ele tivesse uma vagina e nós estivéssemos discutindo uma relação matrimonial de 5 anos. Eu mudei de assunto.

Fico de saco cheio com a desonestidade. Por que a gente tem que agradar a todo mundo? Eu sou honesta, não agüento mais ter que fingir que eu sou tranqüila a respeito de organizar fitas na videoteca enquanto escuto metal dos anos 90. Éca!

Outro dia também, meu amigo Sam me ligou completamente bêbado:

- Sbaile. Por que nós temos que trabalhar das 9 às 5? Por que nós temos que casar, ter filhos e viver esse modelo que a sociedade nos impõe?
- Nós não temos que fazer isso, Sam.
- Então, Sbaile! Eu vou pular de pára-quedas!
- Que ótimo, Sam! Fico feliz que essa seja sua contribuição para a humanidade.
- Eu também, Sbaile! Eu também! Não é o máximo? Quebrar a barreira da gravidade, desafiar o peso da matéria no ar, flutuando como se eu fosse uma folha...
- Tchau, Sam.

Eu desliguei.

O telefone toca de novo:

- Filha, sou eu. – era a minha mãe.
- Fala.
- Mandei o gerente de RH à merda na entrevista de emprego.
- Credo! Por que você fez isso?
- Porque essa empresa é um cú. Eu fiquei puta! Eles me fizeram responder um monte de testes idiotas com perguntas do tipo “Quem botou fogo em Roma?” e “Quem pintou o céu da Capela Sistina?”...
- Nero, Michelangelo... Mãe, você mandou currículo pra Cosa Nostra?
- Não, é essa empresa idiota de cartões de crédito. Não entendi porque eles perguntaram sobre Nero e Michelangelo também. Quem me dera eles fossem da máfia.
- Mas então, por que você ficou puta?
- Porra, eu passei o dia inteiro respondendo a essas perguntas imbecis. Fiquei lá por 5 malditas horas, sendo entrevistada. Aí eles me falam que o salário é de 700 reais e eu tenho que trabalhar aos domingos!
- Há! Por isso eles te trancaram lá por cinco horas? Tipo tortura da Alemanha socialista, depois de 5 horas você faz qualquer negócio pra poder ser liberada?
- Não tinha pensado nisso, mas pode ser. De qualquer forma, mandei o gerente do RH à merda. Falei: “Isso é ridículo! Não acredito que cruzei a cidade por um emprego desses! E quer saber? Não me liga mais. Isso não é entrevista de emprego, é seleção pra trabalho semi-escravo.”
- Você falou isso mesmo?
- Falei! Porra, me senti desrespeitada!
- Mãe, você é meu ídolo! Vou colocar você no blog!
- Mas você não sabe do pior...
- O quê?
- Ele me ligou!
- O gerente?
- É!
- Falando o quê?
- Me convidando pra sair!
- Não!
- Pois é!
- Será que essa é a segunda tática da empresa pra fazer de você uma semi-escrava?
- Eu tô achando.
- Ah, eles todos que tomem no cú, mãe. O mercado de trabalho é nojento.
- NO CÚ MESMO! Com sapato de bico fino!
- Te amo, mãe.
- Também te amo, filha.

(Imagem: dinastia Sbaile - Adriana e Zeni)

No comments:

Post a Comment