Saturday, April 24, 2010

A LEI É CLARA!



Parei de escrever por um tempo. É que eu estava esperando por algum assunto relevante... E não é que ele apareceu?

Ontem a TV americana estava o maior oba-oba com o negócio da imigração no Arizona.

Leitores, eis aqui o que aconteceu no Arizona: na tarde de ontem, a governadora Jan Brewer assinou uma lei que criminaliza a imigração ilegal no estado. Essa é a lei.

Eu quase caí da cadeira quando li a notícia, digo cair de dar risada. Imigração ilegal nos Estados Unidos é crime em todos os estados, pelo que eu sei. O nome já diz, “ilegal”. O propósito desta lei de ontem é simples, passar a mensagem: “Mexicanos, nós não gostamos de vocês. Vocês são baixinhos, marrons e têm um sotaque estúpido.”- Pronto. É isso que o Arizona está falando.

Quando o assunto é imigração, eu sou confiante de que entendo da coisa. E, leitores, o sistema de imigração americano é um dos mais xenofóbicos, ignorantes, preconceituosos e humilhantes pelo qual eu já tive a infelicidade de ser submetida. Vou pular a parte de quase ter sido deportada, ouvir comentários sexistas do policial de imigração, entre outras barbaridades que presenciei por ser imigrante.

Neste ano, o Ricky Martin e o Arizona saíram do armário: um é gay, o outro racista. Vergonha é ser gay e não admitir, ou ser racista e fingir que é livre de preconceitos. Não é?

Falando em gays, essa é outra lei americana: ser militar e gay ao mesmo tempo é ilegal. É o seguinte: vamos supor que o Ricky Martin trabalhasse para a marinha. O porto-riquenho gato de luzes no cabelo teria que morrer fingindo ser homem com “H”. Sair do armário no exército americano significa demissão.

Leitores, eu já falei e vou falar de novo: imaginem alguém demitir um negro do trabalho só porque ele é negro. Vergonhoso. Mais que vergonhoso, ilegal... Mas já foi legal no passado, um passado horroroso de sessenta anos atrás, no qual os negros não tinham direitos civis. Então eu me pergunto: quanto tempo vai demorar para que gays tenham direitos de seres humanos? E quando nós finalmente dermos esses direitos aos gays, quão vergonhoso o passado vai parecer aos nossos netos?

Falando em direitos civis, um outro direito que nós não temos é o de morrer. A morte é proibida. A gente só pode morrer quando Deus quiser que a gente morra. O mesmo Deus que ninguém sabe se existe ou não.

Hoje assisti um filme chamado “You don’t know Jack”, excelente por sinal, sobre a história de Jack Kevorkian – médico nascido na Armênia e criado nos Estados Unidos.

Leitores, vejam a história do Jack: ele matou um paciente em estado terminal que pediu para morrer. O paciente foi morto por injeção letal – a mesma usada pela maioria dos estados americanos para a pena de morte.

Em corte, acusado de assassinato, Kevorkian disse: “Eu preferiria morrer do que deixar aquele homem viver”.

Foi o que bastou para que uma juíza condenasse o médico à pena máxima por assassinato em segundo grau: 25 anos, dos quais ele acabou cumprindo só oito. Ele foi solto em 2007, aos 79 anos.

Mais que um médico pró eutanásia, Kevorkian é um dos ativistas mais convictos de seus ideais.

“Se eu for absolvido, eu ganho. Se eu for preso, eu ganho. Eu não estou fazendo isso por mim. Vai para a cadeia só o que sobrou de mim. Eu quero ver esse caso ir para a suprema corte” (Jack Kevorkian)

Acontece que a suprema corte nunca abriu o caso de Jack, e eutanásia continua sendo ilegal nos Estados Unidos.

Muitas pessoas contra a eutanásia, - e também contra o aborto - alegam que ninguém pode bancar Deus (é, o mesmo Deus que ninguém conhece, ou vê, ou conversa com ele). A resposta de Jack a essas pessoas é simples:

“Quando um médico faz um transplante, dá um comprimido para alguém, salva uma pessoa ao invés de simplesmente deixá-la morrer... Ele está bancando Deus. E por ‘bancando Deus’ eu digo que ele está interferindo com o curso natural das coisas. Nós só estamos discutindo a eutanásia por questões religiosas. Enquanto algumas pessoas argumentam falando sobre a bíblia, eu falo sobre direitos humanos”.

BANG!

Tomem essa, religiosos! Que padre estuprador de criancinhas fala bonito assim? Que bispo ladrão da Igreja Universal sabe sobre direitos humanos de morrer?

É por isso que, hoje, eu não estou escrevendo sobre leis, ou eutanásia, ou sobre gays, ou sobre imigração. Hoje eu quero escrever sobre sair do armário.

Ateus, saiam do armário!

Liberais, saiam do armário!

Anti-racismo, saiam do armário!

A gente não pode tolerar mais uma sociedade controlada por valores religiosos. Religião condena aborto, condena gays, condena o Dr. Kevorkian, já condenou negros e dá margem ao preconceito. Religião condena a capacidade humana de evoluir. Condena o Homem que pensa por si próprio. Religião só não condena o filho da puta do Papa por encobrir estupros.

Por isso, religiosos conservadores, aqui vai a minha resposta a vocês: vão tomar no cú!

“Meu Deus é Johann Sebastian Bach. Pelo menos eu sei que ele existiu de verdade” (Dr. Jack Kevorkian).


Imagem: "Cross of Justice", por Dr. Jack Kevorkian

Sunday, April 11, 2010

EMBALOS DE SÁBADO À NOITE


Por: Ricardo Versage

O tão esperado sábado: músicas, poemas e festas já foram feitas em sua homenagem. Enfim, é o dia oficial de se comemorar - exceto para os judeus ortodoxos, que têm um fetiche por penitência, mas não é o foco do assunto. Vou deixar esses quietos.

Voltando ao foco: o sábado tem que ser um dia especial. Bom, vamos ao causo que tenho para contar:

Eu, estudante de Psicologia, último ano, futuro contribuinte para o aumento da taxa de desemprego no país; mas, que ainda tem esperança de um bom sábado à noite. Imaginem a cena, eu e minha amiga no carro, estamos rodando a cidade faz meia hora e nada de decidir um lugar. Ela finalmente pergunta:

- Para onde vamos?

- Para onde você quiser – eu respondo.

Gostaria de ressaltar um pouco da minha dinâmica aqui: eu sempre vou dizer “para onde você quiser”, mas quando você der as opções e eu não gostar, vou discordar. Então a tradução correta é “Para onde eu quiser.”

- Podemos ir para um barzinho – Tentativa número um da minha amiga.

- Ah! Barzinho, no sábado? Sempre vamos aos barzinhos da vida durante a semana.

- Podemos não fazer nada. Comprar cerveja e ficar em um posto bebendo. – Tentativa número dois.

- Vanessa, deixa eu te explicar: hoje eu fiz a sobrancelha, comprei essa calça da Carmin, estou com minha melhor blusa da Lacoste e um All Star que sempre arrasa nos lugares. Você acha mesmo que vou perder meu tempo em cerveja com um monte de bêbados em um posto?

- Então escolhe você.

- Não, eu topo de ir aonde você quiser, menos no posto... e no bar.

- Então vamos ao Prata! É do mesmo estilo do Porão. Lembra?

Enfim, nesse ponto da história, cabe dizer que estou num momento muito delicado, pois geralmente fico bêbado em festas e acabo nem lembrando que fui ao lugar.

- Não lembro. – respondo.

- Lembra que os meninos da nossa sala, que têm uma banda, tocaram lá?

- Tem banda na nossa sala?

- Ricardo, como você é lesado. O Roberto, o Thi e o Renatinho. Eles têm uma banda.

- Vanessa, nunca vi esses caras tocando.

- Nossa, Ricardo, estou te dizendo. A gente viu a banda! No Porão.

- Que dia?

- O dia que você bebeu tequila.

Isso explica o porquê não lembrava do Porão. E se eu nem lembrava que fui a esse lugar, como poderia me lembrar do show?

Acabamos nesse tal de Prata. Eu já achei o nome meio suspeito, porque se algo é Prata é porque não conseguiu o ouro, então já nem é tão top. Chegando lá eu vi: uma excursão direto dos anos 60, umas cinco ou seis Amy Winehouses; também uns caras barbudos e uma galera metida a escocesa (nos modelitos xadrez).

Entramos no bar.

Vocês lembram da descrição da minha roupa, né? Não é totalmente coerente com uma cena de um lugar “alternativo”. Mas se é alternativo, tem a opção de escolha, não?

Dentro do recinto, peço minha Smirnoff e fico parado num canto, ouvindo as musicas independentes (tão independentes que não precisam ser reconhecidas). Estou lá, parado, ouvindo a independência das músicas, quando percebo um cidadão se aproximando: cabelos longos, barba por fazer, camiseta preta com uma camisa xadrez por cima, calça cargo e um tênis surrado no pé. E ele me diz:

- É sua primeira vez aqui, né?

- Sim, é sim.

- Deu para perceber devido ao seu estilo.

Nossa! Fiquei puto! Quem é ele para me julgar pelo o que visto? Tá bom, eu zombei da festa inteira, mas pelo menos eu não zoei na cara delas - isso já é falta de educação.

- E como você sabe meu estilo? - Pergunto a ele.

- Ah! Você com esse jeito mauricinho, tem cara de quem gosta de Madona, Britney e essas musinhas pop. Você não parece se enquadrar aqui.

- Para sua informação, não que eu deva satisfação, eu gosto mais do rock clássico: Janis Joplin, Jimmy Hendrix, The Who, Beatles, Chuck Berry, Bo Diddley, Fats Domino, Little Richard, Jerry Lee Lewis, entre outros.

Uma observação aqui: eu sempre apelo para essa mesma resposta quando julgam a minha capacidade de gostar de rock, mas a verdade é que essa resposta é By Wikippédia. Podem conferir depois. Eu uso para não ser hostilizado em ambientes nos quais não sou “coerente”.

- Nossa! Você não curte Rage Against the Machine? – Ele pergunta.

(Ressalva: Ele falou vários outros nomes. Não consigo lembrar).

- Não curto. Acho que é muita voz para pouco som. Falam demais sem dizer nada. – Eu disse.

Na verdade, eu não conheço essa banda. Joguei no Google para escrever o nome certo aqui. Só queria deixar claro para que os fãs do Rage Against the Machine não me critiquem. Eu estava tentando fingir que eu era um crítico do rock.

O cara ficou putinho comigo, devido a minha crítica da banda que eu nunca tinha ouvido falar. Ele começou a me dar lição de moral, dizendo que eu não entendia nada de rock – o que é verdade, mas ele não precisava saber -, e que eu era mesmo um “mauricinho”. Eu olhei bem para ele e disse:

- Meu, qual é a tua? Você tem um problema sério. Só porque a pessoa é de tal jeito, você já cria um estigma em cima dela. Eu, quando eu te vi, pensei que você era uma mistura de Fresno com NxZero (Bandas não bem-vistas no cenário alternativo), mas mesmo assim eu não recriminei suas idéias. Então vai ser sempre assim: toda sapatão tem que gostar de Ana Carolina? Todo metaleiro tem que usar preto? E a sapatão que não gosta de Ana Carolina? Aonde fica? E o pessoal que não gosta de preto e gosta de rock, aonde ficam? As pessoas têm uma mania de tirar nosso lugar.

- Quanto você bebeu para falar tudo isso? – Ele.

- O suficiente para falar a noite toda.

- Tá afim de ir fumar um baseado e dar uns pegas?

- Claro! Mas por favor, primeiro o baseado.

Assim, fomos “dar uns pegas”: os dois tipos de pegas. E eu acabei não vendo a banda dos meus colegas, de novo. Moral da história: tem coisas que podem ser resolvidas com dois pegas, é só ambas as partes estarem dispostas!

E por favor, espaços alternativos, deixem as pessoas serem alternativas.

VAI, MÃE! VAI!


Vocês sabem que tenho paciência mínima para pessoas.

Outro dia mesmo, no trabalho, tem esse moleque brega que quer agradar a todo mundo; o maior puxa saco, isso sim. Eu e o moleque estávamos na videoteca organizando fitas, quando ele lança:

- Posso colocar música pra gente ouvir?
- Pode. – Eu respondo.
- O que você gosta de escutar?
- Nada que você possivelmente tenha no seu iPod.

- Como você sabe que eu não tenho nada do que você gosta?
- Porque você é brega.

Silêncio desconcertante.

- Sem ofensas. Eu sou muito particular com o que escuto. Eu e você não fazemos parte do mesmo mundo. Você está no esquema puxa-saco, maconha, faculdade e Bob Marley. Eu não. Nós não vamos gostar das mesmas coisas. Desiste.
- Você tá falando que não temos nada em comum?
- Isso. E eu julgo as pessoas pelo que elas escutam.
- Isso é errado. Só porque eu não sou parte de uma certa cena, não quer dizer que eu não seja parecido com você.
- Escuta, eu não tô falando que você é pior que eu. Você é diferente. Só isso. Um dia eu vou morrer, não vai demorar muito. Aí eu vou olhar pra trás e pensar “Putz, eu desperdicei anos preciosos da minha vida com gente que não tinha nada a ver comigo”. É filosófico isso, sabe?

Ele continuou a argumentar como se ele tivesse uma vagina e nós estivéssemos discutindo uma relação matrimonial de 5 anos. Eu mudei de assunto.

Fico de saco cheio com a desonestidade. Por que a gente tem que agradar a todo mundo? Eu sou honesta, não agüento mais ter que fingir que eu sou tranqüila a respeito de organizar fitas na videoteca enquanto escuto metal dos anos 90. Éca!

Outro dia também, meu amigo Sam me ligou completamente bêbado:

- Sbaile. Por que nós temos que trabalhar das 9 às 5? Por que nós temos que casar, ter filhos e viver esse modelo que a sociedade nos impõe?
- Nós não temos que fazer isso, Sam.
- Então, Sbaile! Eu vou pular de pára-quedas!
- Que ótimo, Sam! Fico feliz que essa seja sua contribuição para a humanidade.
- Eu também, Sbaile! Eu também! Não é o máximo? Quebrar a barreira da gravidade, desafiar o peso da matéria no ar, flutuando como se eu fosse uma folha...
- Tchau, Sam.

Eu desliguei.

O telefone toca de novo:

- Filha, sou eu. – era a minha mãe.
- Fala.
- Mandei o gerente de RH à merda na entrevista de emprego.
- Credo! Por que você fez isso?
- Porque essa empresa é um cú. Eu fiquei puta! Eles me fizeram responder um monte de testes idiotas com perguntas do tipo “Quem botou fogo em Roma?” e “Quem pintou o céu da Capela Sistina?”...
- Nero, Michelangelo... Mãe, você mandou currículo pra Cosa Nostra?
- Não, é essa empresa idiota de cartões de crédito. Não entendi porque eles perguntaram sobre Nero e Michelangelo também. Quem me dera eles fossem da máfia.
- Mas então, por que você ficou puta?
- Porra, eu passei o dia inteiro respondendo a essas perguntas imbecis. Fiquei lá por 5 malditas horas, sendo entrevistada. Aí eles me falam que o salário é de 700 reais e eu tenho que trabalhar aos domingos!
- Há! Por isso eles te trancaram lá por cinco horas? Tipo tortura da Alemanha socialista, depois de 5 horas você faz qualquer negócio pra poder ser liberada?
- Não tinha pensado nisso, mas pode ser. De qualquer forma, mandei o gerente do RH à merda. Falei: “Isso é ridículo! Não acredito que cruzei a cidade por um emprego desses! E quer saber? Não me liga mais. Isso não é entrevista de emprego, é seleção pra trabalho semi-escravo.”
- Você falou isso mesmo?
- Falei! Porra, me senti desrespeitada!
- Mãe, você é meu ídolo! Vou colocar você no blog!
- Mas você não sabe do pior...
- O quê?
- Ele me ligou!
- O gerente?
- É!
- Falando o quê?
- Me convidando pra sair!
- Não!
- Pois é!
- Será que essa é a segunda tática da empresa pra fazer de você uma semi-escrava?
- Eu tô achando.
- Ah, eles todos que tomem no cú, mãe. O mercado de trabalho é nojento.
- NO CÚ MESMO! Com sapato de bico fino!
- Te amo, mãe.
- Também te amo, filha.

(Imagem: dinastia Sbaile - Adriana e Zeni)

Monday, April 5, 2010

MEU NOME É VLADIMIR!




Não faz muito tempo que a Gabriela me liga em busca de algum entretenimento casual. Pudera, ela é casada com um cara de 92 anos. Não, na verdade, ele deve ter uns 60. Ela tem 30.

Eu mesma já fui chegada nos velhotes, mas saí dessa vida. Não se ensina truques novos a cachorros velhos. Os velhotes acham que sabem tudo, nunca vão aprender com você, mas ao mesmo tempo, buscam na mulher mais nova uma solução para a crise de identidade deles. Velhotes feiosos que saem com menininhas não querem amadurecer. São um puta pé no cú, isso sim. Ou eles têm o rabo lotado de grana, só que aí é outra história.

Por essas e outras é que, quase estilo caridade, eu saio com a Gabriela.

Chego no bar, ela não está lá. Latinas são foda, sempre atrasadas.

- Meu filho, me traz uma New Castle enquanto eu espero pela Gabi, por favor. – Eu peço ao bartender.

O bar tá meio lotado, eu fico um pouco claustrofóbica. Um bando de europeus gritando, uns por cima dos outros, já bêbados. Argh! Que nojo eu tenho de pessoas amontoadas!

O bartender me serve o pint. Eu me debruço no balcão pra pegar a minha tão esperada New Castle quando...

- Mocinha! Essa cerveja é minha. – Um maldito inglês fala pra mim.
- Não, ela é minha.
- Não é, não. Eu pedi New Castle.
- Pois eu também pedi New Castle, Mr. Bean!
- Eu estava na sua frente.
- Tem seu nome escrito na cerveja?
- Você é um porre, menina.
- E você precisa de uma namorada.

Agarrei aquela New Castle como se ela fosse o Andrew Bird de cueca durante o meu período fértil. Fui andando em direção a uma mesa. O inglês grita:

- Qual é seu nome, princesa?
- Vladimir! – Eu grito de volta.

Não sei porque falei “Vladimir”. Acho que foi porque eu sempre me senti um russo, daqueles bêbados, barbudos e sem paciência. Um cara com seus quarenta e poucos anos. Sei lá, eu me sinto assim por dentro. Sabem? Esse é meu íntimo: o Vladimir. É, é isso.

No meio da confusão entre mim e o cara de fuinha britânico, o pobre do bartender se confundiu e me serviu um segundo pint.

- Queridão, você já me serviu.
- Já?
- Já. Olha aqui, bicho. Tô bebendo.
- Ah tá. Essa fica pela casa, então.
- Valeu!

Fiquei lá, com dois copos cheios me encarando. Até eu terminar a primeira cerveja, a segunda já ia estar quente. Foi aí que eu ouvi:

- Uma New Castle! – de uma mesa, sozinha, lá num cantinho do bar, uma menina magrinha grita para o bartender.

Andei até a mesa dela com a minha cerveja extra e falei:

- Aqui. Sua New Castle. Essa é por mim.

Ela olhou meio sem entender.

- Pode tomar, não tá envenenada.
- Ah, obrigada.

Ela começa a beber e eu não resisto:

- Pronto. Agora você vai ter que transar comigo, gata. Ou acha que eu saio pagando cerveja de seis dólares sem segundas intenções?

“Puta que o pariu. Eu acabei de falar isso pra uma menina? Que bosta!” – eu pensei, claro, depois de falar. Não se faz esse tipo de brincadeira com meninas, elas levam tudo a sério. Eu deveria ter sido mais sensível e falado: "Ganhei uma extra por engano, pode beber essa".

Mas ela deu risada.

Ufa! Sério mesmo: ufa!

- Meu nome é Heather. Qual é o seu?
- Vladimir.
- Vladimir?
- É, Vlad.
- Seu nome é mesmo Vladimir?
- Não, mas eu gosto desse nome. Acabei de inventar.
- Ah tá.
- Vladimir Chuvalo. Por causa do Chuvalo, sabe?
- Não, não sei. Quem é Chuvalo?
- Um boxeador.
- Latino?
- Não.
- Italiano?
- Não. Canadense.
- Um canadense chamado Chuvalo?
- Pois é, também pensei nisso quando ouvi o nome dele pela primeira vez.

Vejo a maldita da Gabriela entrando no bar. Já era hora.

- Gabriela, sua desgraça de peitos! Tô esperando por você já faz meia hora! – Eu grito.

A Gabi faz uma cara de “não tenho desculpa para estar atrasada, é falta de respeito mesmo” e vem ao meu encontro.

- Heather, legal te conhecer. Agora eu vou lá ver qual é o drama da vez com a Gabriela.
- Valeu pela cerveja, Vlad.
- Ah, sem problemas.

Alguns minutos se passam. Eu tô lá com a Gabi no bate-papo, nada muito interessante, só dramas de alguém que casou com um velho e agora precisa de picas mas entra em crise com a moral ao pensar em trair. Conhecem o tipo?

Enfim, recebo um bilhete do garçom:

“HEATHER (954) 766-7825”

Eu me mato de rir. Penso em responder o bilhete assim: “JENNY 867 5309”. Mas ah, sou boazinha, não tive coragem.

- Sbaile! O que é esse papalzinho? Pára de rir!
- Gabriela, filhota...
- Que é? Me responde!
- Esquece. Eu pago sua próxima tequila. Aliás, esse seu sapato é legal, gostei dele. Quer sair pra jantar, Gabi?
- Agora?
- É, por mim. Mas você vai ter que transar comigo depois. E ah, me chama de Vladimir.