Monday, May 10, 2010

THE TOWN THAT I HAVE LOVED SO WELL


Agora que estou trabalhando, consegui comprar um iPod. Ainda não entendo o que de absurdo ele tem. Ele toca músicas e custa 250 dólares.

Leitores, que esquema!

Ainda estou esperando esse iPod filho da puta se transformar em um guia para o sentido da vida, um dispositivo de comunicação extraterrestre, uma máquina de tele-transporte, uma filmadora, um O.B para momentos de menstruação adiantada, uma espada jedi, um spray de pimenta e um holograma do Mick Jagger há 40 anos atrás tirando a roupa pra mim enquanto canta “Honky Tonk Women”. Mas não: o iPod, no máximo, toca “Honky Tonk Women”.

Vou para o trabalho carregando meu iPod idiota, como se eu fosse a última bolacha do pacote. E já que meu trabalho é cheio de pessoas insuportáveis, eu ignoro todo mundo, ligo o iPod e finjo que meus 250 dólares foram bem gastos naquela merda.

Eu estava editando um jogo do New York Red Bulls, quando uma coisa incrível aconteceu: descobri que existe um cara no time de Nova Iorque chamado Macoumba, e um outro cara chamado Vagenas (se pronuncia “vaginas”) no time de Seattle! Quando o narrador soltou: “Vagina pra cima da Macumba!”, eu tive um ataque de riso.

Acontece que esse é o tipo de coisa impossível de compartilhar com meus colegas de trabalho americanos. Como eu vou explicar uma macumba pra esses caras? Foi então que me deu a maior saudade do Brasil. Olhei ao meu redor: uma afro-americana peituda de cara amarrada e um loirinho tatuado com óculos de armação grossa, vestindo skinny jeans (bonitinho até, mas todo pomposinho)... Ninguém com quem eu pudesse comentar sobre o ataque das vaginas assassinas a um centro de umbanda.

Naquele momento, só existia uma pessoa que poderia me consolar: o Luke Kelly.

O Luke Kelly foi um irlandês barbudo e bebum, que também foi músico. Ele canta uma música chamada “The town that I have loved so well” (“A cidade que eu tanto amei”, em tradução literal). Eu acho que ele nem compôs essa música, mas ela é incrível na voz do Luke. Começa falando “Na minha memória, eu vou sempre enxergar a cidade que eu tanto amei”, e continua “A música na cidade era como um idioma que nós todos conseguíamos entender. Foi lá que eu passei minha juventude. E, para ser honesto, eu não quis partir”.

Finalmente eu tinha encontrado alguma função para o maldito iPod!

- Irlandês barba ruiva, cante a minha nostalgia!

Enquanto eu vivia meu momento transcendental com o Luke Kelly e a cidade que ele tanto amou, fui atingida pelo raio da indignação ao lembrar que o Kassab passou mais uma lei absurda: leitores, enquanto a Argentina legaliza o casamento gay, Gilberto Kassab e José Serra inventam leis anti-fumo, anti-outdoor e anti-feira. Eles só não inventam a lei anti-foda porque se ninguém tiver o direito de foder com o paulistano, os dois super-amigos ficam desempregados.

A última do Kassab foi a lei anti-vidro limpinho. Agora vitrines têm que ter sinais para que bebuns não batam com o nariz no vidro.

Ora, eu que sou paulistana, nascida e criada entre o Paraíso e Liberdade, fico doida com esses dois inventando moda. Enquanto as vagas nas escolas públicas do estado diminuem, o SUS continua uma desgraça, o trânsito sempre parado e a violência rolando solta; o puto do Kassab me vem com uma lei anti-vidro limpinho!

Agora é época de eleição, e o Serra está mandando bala nas pesquisas. Por isso, caso ele ganhe, eu separei umas idéias para novas leis que, como paulistana e brasileira, gostaria que fossem aprovadas pelo congresso:

1) LEI ANTI-AMASSOS NO METRÔ

Ca-ra-lho! Bicho, você não tem carro e mora com seus pais, eu sei. Vá ao motel a pé então, porra! Amasso no metrô não dá! Ainda lembro de pegar o metrô às sextas para ir até a casa da minha avó Dora – quando eu era pequena – e ver os casaizinhos do cursinho do Etapa dando uns malhos na frente da catraca. Eles ficam lá por horas, e horas, e horas... Com todo mundo olhando! São sempre cheios de espinhas, magrinhos, com aquelas carinhas de CDFs... Nada sexy ou excitante.

Então aqui vai: porque adolescentes sem grana fazendo pornô softcore de roupa não me atraem, eu sou pró a lei anti-amassos no metrô!

2) LEI ANTI-SOVACO NO BUSÃO

Essa lei se auto-explica, né? Regatinha já é o ó do borogodó. Regatas por si mesmas deveriam ser ilegais, mas no ônibus elas passam de todos os limites!

Porque eu não quero mais ver sovacos alheios enquanto vou de um ponto da cidade até outro, eu sou deliberadamente pró lei anti-sovaco no busão!

3) LEI ANTI-CANTADAS INFAMES NA RUA

Você já passou pela rua e quase vomitou na calçada ao ouvir “Quero te chupar inteira” ou “Essa eu como até o cú fazer bico”? Pois então, cantadas infames na rua são terríveis! E eu não estou exagerando aqui, os moçoilos que dão cantadas de rua descem o nível assim mesmo. Nós, mulheres brasileiras, não deveríamos ser obrigadas a escutar esse tipo de barbaridade. Qualquer cantada de rua que contenha as palavras comer, bundão, peitão, ô coisa boa, boquete, cú, bucetinha, chupão e esfrega-esfrega deveria ser ilegal!

Porque nenhuma mulher precisa ser cantada por um pedreiro para saber que um pedreiro a comeria, eu sou pró lei anti-cantadas infames na rua!

4) LEI ANTI-MÚSICA DE PLAYBOY NO ÚLTIMO VOLUME

Playboy paulistano a-do-ra passar a pomada da Revlon no cabelo, enfiar uma camiseta imbecil da Diesel e sair abafando no Pálio 1.6 dele (porque playboy se recusa a dirigir carro 1.0). Aí ele coloca uma música eletrônica ridícula no último volume e sai pelas pistas estreitas e congestionadas de São Paulo, assim todo mundo é obrigado a escutar a mesma bosta que ele.

Leitores, porque playboys paulistanos têm péssimo gosto musical, eu sou pró lei anti-música de playboy no último volume!


E, falando em música, quase chorei ao ouvir o fim do som de Luke Kelly, que termina assim:

“Quando eu voltei a minha cidade, meus olhos queimaram. O que foi feito já foi feito. O que foi ganho já foi ganho. O que foi perdido não volta mais. Eu só posso esperar por um dia mais claro... Na cidade que eu tanto amei”.

Porque o pior de São Paulo é o paulistano de direita, aqui vai a minha resposta aos tucanos e suas leis anti-tudo: tucanos, vão tomar no cú!

1 comment:

Luizinho said...

além de postar a frase do século no facebook da Kiti, você escreve coisas interessantes. que bom!

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