Parei de escrever por um tempo. É que eu estava esperando por algum assunto relevante... E não é que ele apareceu?
Ontem a TV americana estava o maior oba-oba com o negócio da imigração no Arizona.
Leitores, eis aqui o que aconteceu no Arizona: na tarde de ontem, a governadora Jan Brewer assinou uma lei que criminaliza a imigração ilegal no estado. Essa é a lei.
Eu quase caí da cadeira quando li a notícia, digo cair de dar risada. Imigração ilegal nos Estados Unidos é crime em todos os estados, pelo que eu sei. O nome já diz, “ilegal”. O propósito desta lei de ontem é simples, passar a mensagem: “Mexicanos, nós não gostamos de vocês. Vocês são baixinhos, marrons e têm um sotaque estúpido.”- Pronto. É isso que o Arizona está falando.
Quando o assunto é imigração, eu sou confiante de que entendo da coisa. E, leitores, o sistema de imigração americano é um dos mais xenofóbicos, ignorantes, preconceituosos e humilhantes pelo qual eu já tive a infelicidade de ser submetida. Vou pular a parte de quase ter sido deportada, ouvir comentários sexistas do policial de imigração, entre outras barbaridades que presenciei por ser imigrante.
Neste ano, o Ricky Martin e o Arizona saíram do armário: um é gay, o outro racista. Vergonha é ser gay e não admitir, ou ser racista e fingir que é livre de preconceitos. Não é?
Falando em gays, essa é outra lei americana: ser militar e gay ao mesmo tempo é ilegal. É o seguinte: vamos supor que o Ricky Martin trabalhasse para a marinha. O porto-riquenho gato de luzes no cabelo teria que morrer fingindo ser homem com “H”. Sair do armário no exército americano significa demissão.
Leitores, eu já falei e vou falar de novo: imaginem alguém demitir um negro do trabalho só porque ele é negro. Vergonhoso. Mais que vergonhoso, ilegal... Mas já foi legal no passado, um passado horroroso de sessenta anos atrás, no qual os negros não tinham direitos civis. Então eu me pergunto: quanto tempo vai demorar para que gays tenham direitos de seres humanos? E quando nós finalmente dermos esses direitos aos gays, quão vergonhoso o passado vai parecer aos nossos netos?
Falando em direitos civis, um outro direito que nós não temos é o de morrer. A morte é proibida. A gente só pode morrer quando Deus quiser que a gente morra. O mesmo Deus que ninguém sabe se existe ou não.
Hoje assisti um filme chamado “You don’t know Jack”, excelente por sinal, sobre a história de Jack Kevorkian – médico nascido na Armênia e criado nos Estados Unidos.
Leitores, vejam a história do Jack: ele matou um paciente em estado terminal que pediu para morrer. O paciente foi morto por injeção letal – a mesma usada pela maioria dos estados americanos para a pena de morte.
Em corte, acusado de assassinato, Kevorkian disse: “Eu preferiria morrer do que deixar aquele homem viver”.
Foi o que bastou para que uma juíza condenasse o médico à pena máxima por assassinato em segundo grau: 25 anos, dos quais ele acabou cumprindo só oito. Ele foi solto em 2007, aos 79 anos.
Mais que um médico pró eutanásia, Kevorkian é um dos ativistas mais convictos de seus ideais.
“Se eu for absolvido, eu ganho. Se eu for preso, eu ganho. Eu não estou fazendo isso por mim. Vai para a cadeia só o que sobrou de mim. Eu quero ver esse caso ir para a suprema corte” (Jack Kevorkian)
Acontece que a suprema corte nunca abriu o caso de Jack, e eutanásia continua sendo ilegal nos Estados Unidos.
Muitas pessoas contra a eutanásia, - e também contra o aborto - alegam que ninguém pode bancar Deus (é, o mesmo Deus que ninguém conhece, ou vê, ou conversa com ele). A resposta de Jack a essas pessoas é simples:
“Quando um médico faz um transplante, dá um comprimido para alguém, salva uma pessoa ao invés de simplesmente deixá-la morrer... Ele está bancando Deus. E por ‘bancando Deus’ eu digo que ele está interferindo com o curso natural das coisas. Nós só estamos discutindo a eutanásia por questões religiosas. Enquanto algumas pessoas argumentam falando sobre a bíblia, eu falo sobre direitos humanos”.
BANG!
Tomem essa, religiosos! Que padre estuprador de criancinhas fala bonito assim? Que bispo ladrão da Igreja Universal sabe sobre direitos humanos de morrer?
É por isso que, hoje, eu não estou escrevendo sobre leis, ou eutanásia, ou sobre gays, ou sobre imigração. Hoje eu quero escrever sobre sair do armário.
Ateus, saiam do armário!
Liberais, saiam do armário!
Anti-racismo, saiam do armário!
A gente não pode tolerar mais uma sociedade controlada por valores religiosos. Religião condena aborto, condena gays, condena o Dr. Kevorkian, já condenou negros e dá margem ao preconceito. Religião condena a capacidade humana de evoluir. Condena o Homem que pensa por si próprio. Religião só não condena o filho da puta do Papa por encobrir estupros.
Por isso, religiosos conservadores, aqui vai a minha resposta a vocês: vão tomar no cú!
“Meu Deus é Johann Sebastian Bach. Pelo menos eu sei que ele existiu de verdade” (Dr. Jack Kevorkian).
Imagem: "Cross of Justice", por Dr. Jack Kevorkian