Sunday, April 11, 2010

EMBALOS DE SÁBADO À NOITE


Por: Ricardo Versage

O tão esperado sábado: músicas, poemas e festas já foram feitas em sua homenagem. Enfim, é o dia oficial de se comemorar - exceto para os judeus ortodoxos, que têm um fetiche por penitência, mas não é o foco do assunto. Vou deixar esses quietos.

Voltando ao foco: o sábado tem que ser um dia especial. Bom, vamos ao causo que tenho para contar:

Eu, estudante de Psicologia, último ano, futuro contribuinte para o aumento da taxa de desemprego no país; mas, que ainda tem esperança de um bom sábado à noite. Imaginem a cena, eu e minha amiga no carro, estamos rodando a cidade faz meia hora e nada de decidir um lugar. Ela finalmente pergunta:

- Para onde vamos?

- Para onde você quiser – eu respondo.

Gostaria de ressaltar um pouco da minha dinâmica aqui: eu sempre vou dizer “para onde você quiser”, mas quando você der as opções e eu não gostar, vou discordar. Então a tradução correta é “Para onde eu quiser.”

- Podemos ir para um barzinho – Tentativa número um da minha amiga.

- Ah! Barzinho, no sábado? Sempre vamos aos barzinhos da vida durante a semana.

- Podemos não fazer nada. Comprar cerveja e ficar em um posto bebendo. – Tentativa número dois.

- Vanessa, deixa eu te explicar: hoje eu fiz a sobrancelha, comprei essa calça da Carmin, estou com minha melhor blusa da Lacoste e um All Star que sempre arrasa nos lugares. Você acha mesmo que vou perder meu tempo em cerveja com um monte de bêbados em um posto?

- Então escolhe você.

- Não, eu topo de ir aonde você quiser, menos no posto... e no bar.

- Então vamos ao Prata! É do mesmo estilo do Porão. Lembra?

Enfim, nesse ponto da história, cabe dizer que estou num momento muito delicado, pois geralmente fico bêbado em festas e acabo nem lembrando que fui ao lugar.

- Não lembro. – respondo.

- Lembra que os meninos da nossa sala, que têm uma banda, tocaram lá?

- Tem banda na nossa sala?

- Ricardo, como você é lesado. O Roberto, o Thi e o Renatinho. Eles têm uma banda.

- Vanessa, nunca vi esses caras tocando.

- Nossa, Ricardo, estou te dizendo. A gente viu a banda! No Porão.

- Que dia?

- O dia que você bebeu tequila.

Isso explica o porquê não lembrava do Porão. E se eu nem lembrava que fui a esse lugar, como poderia me lembrar do show?

Acabamos nesse tal de Prata. Eu já achei o nome meio suspeito, porque se algo é Prata é porque não conseguiu o ouro, então já nem é tão top. Chegando lá eu vi: uma excursão direto dos anos 60, umas cinco ou seis Amy Winehouses; também uns caras barbudos e uma galera metida a escocesa (nos modelitos xadrez).

Entramos no bar.

Vocês lembram da descrição da minha roupa, né? Não é totalmente coerente com uma cena de um lugar “alternativo”. Mas se é alternativo, tem a opção de escolha, não?

Dentro do recinto, peço minha Smirnoff e fico parado num canto, ouvindo as musicas independentes (tão independentes que não precisam ser reconhecidas). Estou lá, parado, ouvindo a independência das músicas, quando percebo um cidadão se aproximando: cabelos longos, barba por fazer, camiseta preta com uma camisa xadrez por cima, calça cargo e um tênis surrado no pé. E ele me diz:

- É sua primeira vez aqui, né?

- Sim, é sim.

- Deu para perceber devido ao seu estilo.

Nossa! Fiquei puto! Quem é ele para me julgar pelo o que visto? Tá bom, eu zombei da festa inteira, mas pelo menos eu não zoei na cara delas - isso já é falta de educação.

- E como você sabe meu estilo? - Pergunto a ele.

- Ah! Você com esse jeito mauricinho, tem cara de quem gosta de Madona, Britney e essas musinhas pop. Você não parece se enquadrar aqui.

- Para sua informação, não que eu deva satisfação, eu gosto mais do rock clássico: Janis Joplin, Jimmy Hendrix, The Who, Beatles, Chuck Berry, Bo Diddley, Fats Domino, Little Richard, Jerry Lee Lewis, entre outros.

Uma observação aqui: eu sempre apelo para essa mesma resposta quando julgam a minha capacidade de gostar de rock, mas a verdade é que essa resposta é By Wikippédia. Podem conferir depois. Eu uso para não ser hostilizado em ambientes nos quais não sou “coerente”.

- Nossa! Você não curte Rage Against the Machine? – Ele pergunta.

(Ressalva: Ele falou vários outros nomes. Não consigo lembrar).

- Não curto. Acho que é muita voz para pouco som. Falam demais sem dizer nada. – Eu disse.

Na verdade, eu não conheço essa banda. Joguei no Google para escrever o nome certo aqui. Só queria deixar claro para que os fãs do Rage Against the Machine não me critiquem. Eu estava tentando fingir que eu era um crítico do rock.

O cara ficou putinho comigo, devido a minha crítica da banda que eu nunca tinha ouvido falar. Ele começou a me dar lição de moral, dizendo que eu não entendia nada de rock – o que é verdade, mas ele não precisava saber -, e que eu era mesmo um “mauricinho”. Eu olhei bem para ele e disse:

- Meu, qual é a tua? Você tem um problema sério. Só porque a pessoa é de tal jeito, você já cria um estigma em cima dela. Eu, quando eu te vi, pensei que você era uma mistura de Fresno com NxZero (Bandas não bem-vistas no cenário alternativo), mas mesmo assim eu não recriminei suas idéias. Então vai ser sempre assim: toda sapatão tem que gostar de Ana Carolina? Todo metaleiro tem que usar preto? E a sapatão que não gosta de Ana Carolina? Aonde fica? E o pessoal que não gosta de preto e gosta de rock, aonde ficam? As pessoas têm uma mania de tirar nosso lugar.

- Quanto você bebeu para falar tudo isso? – Ele.

- O suficiente para falar a noite toda.

- Tá afim de ir fumar um baseado e dar uns pegas?

- Claro! Mas por favor, primeiro o baseado.

Assim, fomos “dar uns pegas”: os dois tipos de pegas. E eu acabei não vendo a banda dos meus colegas, de novo. Moral da história: tem coisas que podem ser resolvidas com dois pegas, é só ambas as partes estarem dispostas!

E por favor, espaços alternativos, deixem as pessoas serem alternativas.

1 comment:

Tudo sobre copos e cinzeiros. said...

Pegas em todos os sentidos são necesários em vários momentos da nossa vida!

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