Monday, February 1, 2010
E se eu tiver AIDS? (parte II)
Estou em casa tentando brincar com o cubo mágico.
- Mas que porra de Q.I de ameba eu tenho! Só pode ser...
O Mike chega em casa.
- Cubo mágico?
- É.
- Há quantas horas você está brincando com isso?
- Três.
- Três horas e você não conseguiu resolver isso?
- Bom... três horas e meia...
- Dá isso aqui.
Ele faz o lado vermelho e o branco em menos de vinte minutos.
- Pronto. Agora você termina.
- Como, Mike? Como?
- Com seus neurônios e mãos.
- Acho que não me restam neurônios, só mãos...
Maldito cubo mágico.
- Toma, Stella! Você resolve isso.
A Stella começa a mastigar o cubo.
- Isso, Stella! Mostra pra esse cubo quem é que manda!
Meu telefone toca.
- Alô.
- Carolina Sbaile?
- Sou eu.
- Aqui é o Dr. Mancini.
- Oi Dr.! Como é que você tá?
- Bem, bem. E você?
- Entre um tremelique e outro, bem também. E a família?
- Não tenho família. É o seguinte: vou precisar tirar mais sangue seu.
- Como assim, não tem família? Todo mundo tem família.
- Eu não tenho. Seus testes estão inconclusos, o laboratório precisa de mais sangue.
- Como assim, inconclusos?
- Não conseguiram testar...
- Doutor... Eu tenho AIDS?
- Não, não... a máquina não estava apurada, por isso os testes não saíram.
- O teste de drogas eu posso te falar agora. Coloca aí: positivo para álcool.
- Posso marcar você pras oito da manhã, amanhã?
- Não, não. Eu durmo até às duas da tarde. Coloca pras quatro, porque eu tenho que tomar banho, secar o cabelo, levar a Stella pra passear... Tudo isso demora.
- Às quatro, então?
- Isso. Eu tenho sífilis?
- Te vejo amanhã às quatro. Tenha uma boa noite!
- Eu tenho hepatite?
Ele desligou.
- Meu Deus! E SE EU TIVER AIDS?
- Quê? – o Mike pergunta com medo.
- Meus testes... eles precisam de mais sangue.
- Vai ver a máquina não estava calibrada direito.
- Mas e se eu tiver AIDS?
- Você não tem AIDS.
- Se for AIDS, eu vou ligar pro viado do Jeremy... só ele pode ter me passado AIDS.
- Quem é Jeremy?
- Um jogador de Hockey aí que eu namorei antes de você.
- Ah, o canadense?
- Não, não... esse é o Henry.
- Não quero mais saber...
Tremelique. Tremelique. Tremelique. Tremelique.
- Você quer parar de tremer?
- Quero, mas não consigo. O Dr. Mancini disse que isso dá câncer. Eu já sei como vou morrer.
- Então... Já que você vai morrer de câncer mesmo, quem liga se você tiver AIDS também?
- Câncer eu posso agüentar, mas câncer e AIDS ao mesmo tempo é foda.
- A Stella tá mastigando o cubo mágico...
- Eu sei. Eu dei pra ela.
- Quer assistir Real Time with Bill Maher?
- Coloca aí.
Dia seguinte. Hospital.
- Você pode preencher esse formulário? – a recepcionista pergunta.
- Eu já preenchi.
- É, mas o laboratório não registrou os resultados. Você tem que preencher de novo.
- Mas você já sabe as respostas para as perguntas nesse formulário, porque eu já preenchi essas oito páginas!
- Tem que preencher de novo.
- Não vou preencher de novo.
- Então não posso te passar pro Dr. Mancini.
- Chama aquele velho italiano bigodudo aqui já. Eu não vou preencher isso de novo!
O Dr. Mancini chega.
- O que é agora, Sra. Sbaile?
- Eu não vou preencher esse formulário de novo. Isso é ridículo.
- São os procedimentos.
- Não, não e não!
- Você quer saber se tem AIDS ou não?
- Por favor!
- Então preencha isso.
- Saco... tá bom.
Uma semana mais tarde. O telefone toca.
- Sbaile? Dr. Mancini.
- E aí, eu tenho AIDS?
- Não sei, o laboratório ainda não consertou a máquina.
Tremelique.
- Escuta aqui, sua peça de museu vestida em avental branco! Eu não te paguei mais de 500 dólares pra ser torturada por três semanas!
- Tô brincando. Vem pegar seus exames, estão prontos.
- Ah... ah... tchau.
Chego ao hospital. Tremelique. Pego meus exames e corro para o carro. Tento abrir o envelope, não consigo, ta lacrado com fita e cola. Saco. Mordo o envelope, não abre. Cacete.
Chego em casa.
- Stella, toma! Abre esse envelope.
Ela começa a mastigar. Abre um buraco no envelope.
- Eu sabia que você ia ter alguma utilidade um dia, cachorrinha.
Pronto. É fato. Eu não tenho AIDS. Que alivio.
Tremelique. Tremelique. Tremelique.
- Esses seus tremeliques não são normais. Isso tem que parar! E o que são essas marcas roxas na sua perna? – o Mike pergunta.
- Marcas roxas?
Eu olho.
- Aaaaaaaahhhhhh! Meus Deus, Mike! E SE EU TIVER CÂNCER?
2 comments:
Será que estamos em frente a um novo caso de Histeria? Chamem o Dr. Freud.
Amo vc.
Bjus Caio
Minha grande amiga morreu de cêncer e Aids...no meus braços, enquanto eu a ajudava a voltar para a cama pós banheiro. Foi a primeira vez que lembrei daquela cena... e sorri, não mais chorei!
Adorei a foto associada ao espírito dos tremiliques!
beijoss
Gi
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