Wednesday, March 31, 2010

ENCARANDO ALI



A história do boxe vai muito além do esporte. Em um país segregado, aonde negros eram seres humanos de segunda classe, foi criada a maior linha de lutadores - homens que aprenderam desde cedo que levar porrada é só parte da vida.

Há alguns meses atrás, assisti o documentário sobre Mike Tyson: “Tyson”. De todos os boxeadores históricos, Mike foi o único o qual eu pude acompanhar. Lembro de assistir as lutas com a minha avó. Quem não se recorda ver o pedaço da orelha de Holyfield entre os dentes de Tyson e pensar: “Ah não, Mike! Por que você faz essas coisas?”

Estava ali o fim, já pela segunda vez, da carreira de Tyson – entre os dentes, ensangüentada, a carne do oponente.

Em “Tyson”, o brutamontes mal encarado não assusta; pelo contrário, chora feito criança ao lembrar da infância trágica, da morte do homem branco que fez dele um ídolo, e do infeliz falecimento da filhinha de quatro anos. Não se vê ali um boxeador, mas de fato, um lutador.

No entanto, quando o assunto é boxe, o nome mais fantástico da história há de ser Muhammad Ali. Nascido Cassius Marcellus Clay Jr., o menino preto e pobre da rural Kentucky mudou seu nome para Muhammad Ali, influenciado por uma das figuras mais famosas do movimento negro americano: Malcolm X.

“Clay é meu nome de escravo. O nome da família branca a qual minha família pertencia. Eu não sou um escravo, eu sou um homem.” (Muhammad Ali)

Ontem mesmo, assisti o “Facing Ali”, documentário recente que conta com boxeadores clássicos falando sobre como foi encarar Ali no ringue.

“Boxeador é pobre. Menino rico não toma porrada. Meu pai fez até a terceira série, ele tirava pele de gado. Quebrou o braço uma vez, nunca foi ao médico. Morreu tirando pele de gado, com o braço quebrado, agüentando a dor; enquanto minha mãe depenava frangos: 200 frangos por dia para ganhar um dólar...”

“... Mas foi só quando meu segundo filho se matou que eu perdi o controle, principalmente porque minha mulher não agüentou o baque e, naquela mesma tarde, cometeu suicídio também. Nada se compara a isso.”
(George Chuvalo, ex boxeador canadense, em “Facing Ali”)

“Seu cérebro só agüenta levar uma certa quantidade de pancadas, depois disso sua carreira acaba. Você fica com eternas seqüelas, mas é assim que é o jogo.”
(George Foreman, boxeador americano, em “Facing Ali”)

“Eu era pai solteiro. Às vezes, o máximo que eu podia oferecer ao meu filho era um cachorro quente. A única esperança que eu tinha para poder sustentar meu menino era encarar o Ali e, mais que isso, ganhar aquela luta. Uma luta contra o Ali me proporcionou uma chance na vida, ponto final.”
(Ken Norton, boxeador americano, em “Facing Ali”)

Mas o Ali foi mais que uma máquina de dar e levar socos. Muhammad é um marco na história afro-americana. Menino novo que se recusou a ir ao Vietnã alegando “Nenhum vietnamita me chamou de crioulo, eu não tenho motivos para ir a essa guerra e matar um bando de asiáticos inocentes”.

O governo americano logo retrucou: Muhammad perdeu a licença para boxear. Estava lá a resposta dos Estados Unidos ao medalhista olímpico: “Nós vamos acabar com a sua carreira, negão!”

Ali não se deixou abalar. Ele não estava indo à guerra e ponto, e fim! Um dos atos ideológicos mais lindos da história é dele: Muhammad Ali.

“Facing Ali” não é sobre boxe, sobre esportes ou sobre meninos pobres que dão uma reviravolta na vida. Não. O filme é para quem tem a sensibilidade de enxergar, acima de tudo, lutadores de verdade, cada um deles.

Levar porrada na cara não é problema pra quem cresceu sem nada. Mas as histórias de “Facing Ali” não são sobre dores físicas, mas sobre pancadas de espírito, pancadas que só alguns conseguem agüentar sem serem nocauteados.

Ficam aqui, então, minhas recomendações: “Tyson” e “Facing Ali”.

Boxeadores – impossível não gostar destas figuras!

Tuesday, March 30, 2010

EU POSSO LÁ FICAR AMERICANIZADA?


Depois de quase um ano desempregada na terra das oportunidades, consegui um trabalho de assistente de edição para os promos da ESPN.

Leitores, até que enfim!

A primeira pergunta que o diretor de marketing me faz é: “Você nasceu no Brasil, né?”. Achei estranho que essa fosse a primeira pergunta da entrevista. Respondi que sim, que era brasileira. Aí ele solta:

- Mas você já está aqui há muitos anos?
- Quase três. – eu respondo.
- Em Nova Iorque?
- Não, sempre na Flórida.
- Você já perdeu seu sotaque. Pensei que tivesse sido criada em Nova Iorque.

O produtor comenta:

- Ela se veste como alguém que veio de Nova Iorque, tá americanizada já.

Eu tento levantar uma sobrancelha só, mas não consigo. Nunca consegui levantar uma sobrancelha só. Acho o maior charme. É a expressão de “Como é que é?” com classe. Não sei cantar também, ou tocar piano, ou desenhar bem, ou dançar. Eu sou uma das pessoas mais sem talento do meu grupo de amigos. Bem que eu podia conseguir levantar uma sobrancelha só... Mas não! Nem isso.

Lembro de ter tido uma crise de choro aos 14 anos, na aula de Português do primeiro colegial. O Luiz, meu irmão gêmeo de outra encarnação, ficou preocupado e perguntou: “Que é, Sbaile?”. Eu respondi: “Eu não sei fazer nada, Luiz!”. Ele, que sabia desenhar, costurar, cozinhar e tocar guitarra, falou: “É, verdade. Mas isso não importa muito. A gente gosta de você assim mesmo. Agora pára de ser bicha e engole o choro!”

Da última vez que voltei ao Brasil, meus amigos me acusaram de ter sotaque americano. Comentaram sobre as minhas roupas de gringa, meus saltos, minha maquiagem pesada, minha franja de Betty Page e meu batom vermelho. Eu mandei eles irem se foder, falei que queria pizza do Esperanza e esfiha do Jaber.

Tudo veio à tona quando ouvi o produtor dizendo que eu era uma “americanizada”. Os dois entrevistadores estavam querendo saber mesmo se eu conhecia futebol, porque eles precisavam de alguém para fazer os promos da copa. Ao invés de perguntarem “Você gosta de futebol?”, eles perguntaram se eu tinha crescido no Brasil, é claro, quem nasce no Brasil joga bola, já foi modelo algum dia na vida, tem bunda grande e samba no pé.

Quase respondi estilo Carmen Miranda: “Eu posso lá ficar americanizada? Eu que nasci no samba e vivo no sereno...” Mas isso também não é verdade. Nunca fui muito brasileira. Não sambo, não toco pandeiro, não sou modelo e não jogo bola - mesmo que eu tenha sido parte do time campeão estadual de futebol feminino em 1999. Há! Aposto que vocês não sabiam dessa. Depois joguei minha medalha na privada, num ato trágico estilo Muhammad Ali, só que sem motivos ideológicos, porque eu era uma idiota mesmo.

Eu também não me sinto americana. Eu não me sinto de lugar nenhum. Sou um fantasma com um passaporte cheio de vistos estampados. É o eterno drama do imigrante, o inexorável sentimento de não pertencer – o que pode levar a uma tenebrosa confusão com o sentimento de não ser. Antes de entrar em crise de novo, aqui vão minhas considerações finais sobre o ser e o pertencer do imigrante:

São americanas as minhas blusas de oncinha, minhas jaquetas de zebrinha, meu cabelo moderninho, meu gosto musical, meu David Lynch, meu marido ilustrador bêbado gente boníssima, meu Scott de tapa-olho, minha diva Stella aka Semente do Mal, minha educação formal, minha preguiça de andar, minha ilha de edição particular, meus pubs irlandeses, minha Destiny, meus afro-americanos hilários, meus judeus artistas, meus branquelos roqueiros, minha Nova Iorque charmosa, meu amor pelo Iggy Pop e meu plano de telefone ilimitado por 60 dólares mensais.

São brasileiras as minhas noites de punk aos 14 anos com as meninas do Paraíso, foi no Brasil que eu me apaixonei pela primeira vez, perdi minha virgindade, depois dei um pé na bunda do cara. Ele, o cara, me chamou de vaca, puta, galinha e desgraçada, depois virou amigo e voltamos a ir a shows juntos. Também são brasileiras as duas avós mais legais do mundo, minha irmã Amanda, minha falecida dobermann e melhor amiga, a Hannah; meu kibe, minha Brahma, minhas longas tardes patinando pela Aclimação, meus porres adolescentes, meus travecos, meu centro da cidade, minha PUC, meu Luiz, meu Caio, minha Malu, meu Alex, minha Rhady, minha Gisele, meu Paulinho (o nipo-pernambucano)... E, claro, meu sake, meu rodízio de sushi e minha fantástica Liberdade, na qual eu fui criada.

Friday, March 26, 2010

QUANDO EU ME APAIXONEI



Eu já me apaixonei várias vezes. Poucas vezes por amigos. Tenho um monte de amigos homens, nenhum é material pra namoro. Na verdade, acho que é porque os conheço bem que sei que eles dariam péssimos namorados.

Tem o Luiz, provavelmente o único que vai dar um bom marido pra alguém um dia – caso ele ganhe dinheiro na vida. Tem o Bruno também, mas ele é meio impaciente – precisa de uma mulher desencanada. Os outros são todos galinhas, ou peidam na frente da namorada, ou não gostam de trabalhar, ou não gostam de namorar, ou são gays, ou já casaram, ou são gays e já casaram.

Tem o Ward, o único amigo pelo qual eu me apaixonei. Mas aí eu descobri que ele não bebe, não fuma e não come carne. Ele, por outro lado, descobriu que eu sou histérica e tenho pêlos na barriga (eu depilo, mas às vezes esqueço, porra!). Continuamos amigos, acho que porque nunca beijamos ou nada do tipo, então deu pra continuar a amizade.

O Ward, além de ter um nome meio besta, faz tour com bandas pela Europa. Ele tá sempre pra cima e pra baixo com algum músico. A vida dele deve ser boa, porque ele conhece o mundo enquanto come umas groupies (que é só o que sobra, já que ele não bebe e não fuma).

Um dia desses, ouvi esse cara chamado Andrew Bird e me apaixonei pela música. Depois vi o cara na TV (maior gato) e pensei: “Maior gato!”. Pronto, eu estava apaixonada de novo!

Sabe quando você é pequeno e se apaixona por alguém da TV? Aí você fica sonhando com aquele artista antes de dormir, conversando com o pôster dele na parede... Sabem? Pois é, eu faço isso, só que depois de velha. Ridículo, eu sei, eu sei. Mas quem são vocês pra me julgar? Aposto que vocês têm suas babaquices também.

O problema aconteceu quando o tal do Andrew virou uma possibilidade real, porque o Ward estava trabalhando pra ele e, acreditem ou não: morando com o cara por dois meses! Entre o Andrew Bird, eu e um romance histórico só existia a porra do Ward.

Pulei no sofá por 15 minutos sem parar. Aí cansei, porque sou fumante.

- Waaaaaaaaard! – eu ligo pra ele.
- Tô ocupado. Não posso falar. Liga mais tarde.
- Não. Tô histérica!

Ele desligou.

- Ward! – eu ligo de novo.
- Puta que o pariu, Sbaile!
- Eu quero conhecer o Andrew Bird! Eu quero! Eu quero! Eu quero!
- Pára de ser um saco!
- Waaaaaaaaard!

Ele desligou de novo.

Imaginem se eu tivesse namorado esse cara! Puta menino cheio de faniquitos. Afe!

Algumas horas mais tarde, ele liga:

- Fala, maldita!
- Eu preciso conhecer o Andrew Bird!
- Ele não é tudo isso que você tá pensando...
- Não estraga meu sonho!
- Você acha que ele é tão legalzíssimo porque ele é esse geniozinho dos pseudo-intelectuais, esse Mozart dos idiotas...
- Porque ele é!
- E você é uma idiota?
- Sou!
- É mesmo, Sbaile? Você é, assumidamente, uma idiota?
- Claro que eu sou, Ward! Quem mais, se não uma idiota, se apaixonaria por um cara da TV?
- Hm. Não, ele não é pra você, Sbaile. Não vou fazer isso.
- Você tá com ciúmes!
- Quê? Pára com isso, rainha do ego!
- Se você me apresentar pra ele, eu faço qualquer favor que você quiser.
- Eu quero ver seus peitos.
- Sério? De todos os favores do mundo, é isso que você quer?
- É.
- Ah não, é muito deprimente ter que mostrar meus peitos pra um cara que eu não gosto só pra poder mostrar meus peitos pra um cara que eu gosto depois.
- Sbaile, ele não é tão legal assim. Eu conheço o cara. Ele é todo esquisito.
- Eu gosto de esquisitos!
- Vamos ver se você gosta dele depois de eu te contar que ele a-do-ra groupies. Come tudo o que vem pela frente. O maior galinha com qual já trabalhei.
- Sério?
- Sério!
- Então eu tenho uma chance, Ward!

Ele desligou.

POR UM MUNDO FEMININO MENOS BABACA!


No post passado, falei sobre minha lista de queridinhos. Foi aí que eu me dei conta: só três dos meus queridinhos são, na verdade, queridinhas – contra 28 queridinhos e 2 indefinidos (transexuais).

Pensei bastante em mulheres legais para adicionar à lista... sem sucesso. Com exceção de uma meia dúzia de amigas minhas, mulheres são muito chatas! É horrível ter que escrever isso, porque eu menstruo, sofro com a TPM, uso maquiagem e tenho cabelo comprido.

E eu realmente queria que mulheres fossem mais legais, mas encaremos os fatos: elas não são.

Talvez seja por isso que a natureza se encarregou de dar um monte de testosterona aos homens: o pinto fala mais alto, assim eles conseguem agüentar a chatice feminina e se manterem heterossexuais.

Minha teoria é que o fato da maioria das mulheres ser um tremendo pé no saco é social, mas não natural ou humano – ao contrário do que diria Marx.

Eu conheço um monte de mulheres legais no mundo real. Só que essas não são famosas. Mulheres famosas estão muito preocupadas com duas coisas: ser gostosa ou ser o mais masculina possível para que seja levada a sério.

Mulheres bonitas, inteligentes, engraçadas e que não estão preocupadas em agradar o mundo masculino enquanto passam a vida atrás de uma pica qualquer são raras. No entanto, minha queridinha número um, Tina Fey (roteirista e atriz no seriado “30 Rock”), está aí pra provar que o mundo feminino é, na verdade, o mesmo que o masculino: nós pensamos sobre política, tecnologia, arte, história, comédia, literatura, etc. Temos opiniões válidas sobre música e cinema. Algumas – o que não é o meu caso – sabem até fazer continha de dividir quando tem vírgula!

O que eu estou falando, na verdade, é que a imagem feminina se tornou algo tenebroso. Eu tenho nojo de mulheres com suas unhas pintadas de “francesinha”, suas sobrancelhas finas, seus cabelos pintados de loiro e seus implantes de silicone. Mas eu não deveria. Não! Porque, se eu continuar com esse preconceito contra mulheres, eu vou acabar tão chauvinista mascarada quanto a maioria dos meus ex namorados.

A imagem da mulher bonita tem que parar de ser capa da Playboy, enquanto a imagem da mulher inteligente tem que parar de ser um maldito filme da Barbara Streisand! Pelo amor de Deus!

É por isso que estou anunciando, aqui, meu novo projeto: “Tudo o que você sempre quis saber sobre mulheres mas nunca teve saco para argumentar”. É um website escrito por mulheres. Qualquer tema é válido: de mecatrônica ao sentido da vida.

Quando eu estou numa mesa de bar bebendo New Castle (‘cos I’m just that cool, right?) e conversando com as minhas meninas, a gente não fala só sobre paus alheios e livros de auto-ajuda. Não! Entre uma menstruação e outra, nossos cérebros trabalham independentemente - mesmo que gostemos de paus alheios (mas nem tanto de livros de auto-ajuda assim como vocês podem imaginar).

Você não precisa ser gostosa, não precisa ser inteligente, não precisa ser hilária... Só precisa não ser um maldito pé no cú!

Ilustradoras, webmasters, cartunistas, roteiristas, escritoras e comediantes estão convidadíssimas.

Por um mundo feminino menos babaca!

Wednesday, March 24, 2010

O Mistério do Samurai




Pra quem não sabe, eu tenho uma lista de queridinhos. Na lista, existem pessoas de todos os tipos: compositores, atores, picaretas, empresários, políticos, travestis e diretores de cinema. Intitulei o documento: “Pessoas mais legais do mundo”. Dente os meus favoritos, está o diretor americano Jim Jarmusch.

Ontem assisti, já pela terceira vez, “Ghost Dog – the way of the Samurai”, que conta com a participação fenomenal de Forest Whitaker no papel de um assassino profissional que executa mafiosos seguindo as leis dos antigos samurais.

Ghost Dog não tem telefone ou computador. Ele se comunica por pombos correios. Ele é o assassino mais legal dentre todos os assassinos de filmes. Garanto!

Fiquei pensando: “Como eles treinam esses pombos?”

Corri para o Google e digitei as palavras: treinamento pombo correio.

Encontrei vários sites sobre o assunto. Descobri que pombos sempre retornam aos ninhos, por isso os criadores começam o treino desde cedo – para que o pombo saiba que a gaiola é o ninho. Pombos têm um incrível senso de direção e já foram relatados casos de pombos europeus que cruzaram o oceano para a América e depois retornaram as suas casas.

É fascinante pensar que um pombo idiota possa fazer isso, não é?

O que eu não consegui encontrar na internet foi: como os pombos sabem pra onde voar com a mensagem? Será que eles são tipo cães guias que conseguem memorizar um certo número de endereços? Pombos não me parecem tão inteligentes assim.

No filme, os pombos do Ghost Dog são fabulosos: saem pelos céus de Nova Iorque mandando mensagem pra tudo quanto é mafioso. Será que isso é possível no mundo real?

Não agüentei de curiosidade e postei minhas dúvidas na internet. Vocês internautas responderam. Então vamos às respostas:

PRIMEIRA MELHOR RESPOSTA:

“É uma aula cansativa, demorada e gastronômica, já que os pombos ficam estressados e comem em demasia.
Primeiro você tem que ensinar o alfabeto para eles, nas línguas que as cartas forem surgindo. Coloque um quadro de giz em frente às gaiolas dos infelizes - não grite com eles feito os abestados das escolas públicas fazem com a alunada babaca. Tenha calma, paciência e resignação - se você quiser um resultado satisfatório, porque se não for desse jeito os pombos podem transformar-se em Kamikazes, suicidas, pombos-bombas, uma dessas desgraceiras qualquer.
Ensine a eles braile, esperanto, código de César e o Código Da Vince - para eles poderem entrar em qualquer lugar sem que sejam perseguidos pala Coza Nostra, pela Máfia chinesa ou pelos membros da Opus Dei. Mas se você for pro Auto Xingú, tem que ensinar pros bichinhos a língua dos aruaques, a dos Aruaus, a dos Aruaxis, e por último, como é que se dança a Xingombela.
Mas afinal de contas que tipo de pombo você vai treinar, haja vista termos essa expressão pombo, com os seguintes significados: POMBO [Do lat. palumbu.] S. m. Zool. O macho da pomba. POMBO, Bras. ES RJ Charuto usado nas cerimônias das macumbas. POMBO, Bras. CE Pop. Invólucro de fezes lançado à rua. [Sin., nesta acepç., em AL e MG: pombo-sem-asa.] e, POMBO, Adj. Bras. Diz-se do cavalo branco (talvez seja o de Napoleão, mas isto é uma outra história!).
Então, decida e fé em deus e pé na tábua.”

SEGUNDA MELHOR RESPOSTA:

“Acho que se ele ingressasse nos correios já bastaria. Porém duvido muito que ele seja aprovado em concurso.”

TERCEIRA MELHOR RESPOSTA:
“Num precisa , basta dar o endereço que ela vai certinho”

E vocês, têm alguma ideia de como ensinar aos pombos os endereços certos?

Nesse meio tempo, vou trocando o nome da minha lista para “Seres mais legais do mundo”, assim posso incluir os pombos correios nela – porque não existe nada mais emocionante que receber sua sentença de morte por um pombinho fofo, vinda de um Samurai que é, na verdade, o Forest Whitaker. Imaginem tirar o papel da pata do pombo e ler: “Agora você se fodeu, bicho. E eu nem tô falando sobre cagar em você!”

Tuesday, March 23, 2010

COPA DOS SEM-TETO. A NÃO SER QUE VOCÊ SEJA UM SEM-TETO...


2010 é ano de copa do mundo. Aêêêê!

Eu adoro a copa do mundo! É um festival de milionários gostosos correndo pra cima e pra baixo, eu me reúno com os amigos e tenho uma desculpa pra beber todas. A copa é ótima. Dou o maior apoio!

Enquanto isso, no lado B do mundo, existe a copa dos sem teto. Essa acontece todos os anos, e os times cotam com, no máximo, quatro jogadores cada – um goleiro e três no campo. Para participar, basta ser um sem-teto e ter mais de 16 anos. Ambos os sexos são aceitos, com a condição que o jogador seja oficialmente um sem-teto.

A idéia de fazer uma copa do mundo para os sem-teto surgiu em uma conferência na África do Sul, em 2001. Um ativista escocês e um editor do jornal dos sem-teto austríaco deram forma ao que aconteceu em 2003, na Áustria.

Em 2005, Nova Iorque se prontificou a ser a anfitriã do evento, mas logo de cara desistiu: o processo de vistos para os atletas sem-teto era muito complicado. A imigração americana dificultou os procedimentos. “Não tem problema!” – a Escócia gritou do outro lado do Atlântico – “A gente faz aqui.”

Para a Escócia, sem-teto!

O time do Quênia estava indo ao delírio!

Sem-teto quenianos são um pouco diferentes de sem-teto brancos, digo, europeus. Enquanto os jogadores do Oeste Europeu são, em sua maioria, viciados; os quenianos são limpadores de rua que não ganham suficiente para manter uma casa. Mas isso não importava para os Quenianos, o que importava era: eles estavam indo à copa!

Até que a Grã-Bretanha negou o visto para o time do Quênia.

Quatro jogadores quenianos e um técnico foram proibidos de entrar no Reino Unido. A imigração inglesa declarou: “Eles não têm motivos para voltar ao país de origem”. Há! Muito pobres para um evento de sem-teto, talvez?

É engraçado ouvir isso dos ingleses, que, em 1920, tomaram o Quênia como colônia oficial da rainha. Só em 1963 foi que o Quênia se tornou independente do regime inglês. E em 2005, tudo o que quatro jogadores quenianos e um técnico queriam era bater bola em solo bretão. NEGADO!

“Volta pra casa, filhote!”

Este ano... surpresa! A copa dos sem-teto vai acontecer em Copacabana. Sim senhoras e senhores! Quenianos e ingleses estão ambos convocados, e convidados a conhecer o Rio, e claro, bater bola. Aproveitem!

Monday, March 22, 2010

PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DE AMOR


Olha só, aqui vai mais uma para a lista de notícias: casamento gay foi liberado no México. Semana passa mesmo. No duro!

Casamento gay não é legal na maioria dos países. E, quando um país grita em bravos pulmões: “Nós vamos legalizar!”, outros países ficam indignados. Por que será? – eu penso.

Mas é claro: porque nós odiamos gays! Por que mais seria?

Ser homossexual assumido é quase tão grave quanto ser negro há não muitos anos atrás. Lembram? Quando eles eram escravos? Ah, nós não éramos nascidos naquela época. Mas muitos já eram nascidos quando os negros foram segregados e não podiam ir às mesmas escolas que os brancos. Lembram dessa?

Hoje, a escravidão é um tabu. Ninguém mais fala nisso. Existem leis contra discriminação. Negros agora têm direitos. Qualquer um que falar ou escrever alguma coisa racista pode ser incriminado, pelo menos no Brasil. Fica, então, terminantemente proibido odiar um negro só pelo fato dele ser negro.

Ser mulher não fica nada atrás na lista dos seres mais odiados do mundo. Afinal, nada que sangra por cinco dias e não morre pode ser bom. Na maior parte do mundo, mulheres ganham menos que os homens, ocupam menos cargos de diretoria em empresas e têm menos poderes gerais de decisão.

Macho branco heterossexual adulto: o mundo ainda é seu.

Eu fico aqui, pensando com os meus botões: quanto tempo vai demorar para que odiar gays pelo simples fato deles serem gays se torne tão vergonhoso quanto odiar um negro por ele ser... bom, negro?

Gays. Negros. Mulheres. Árabes. Judeus. Seres humanos, talvez?

Será que as pessoas que são contra o casamento gay já se apaixonaram? Será que elas já sentiram as pernas tremendo? Não no sentido figurado. Não! Será que as pernas delas tremeram de verdade? E elas perderam o controle físico, nem que por alguns segundos? Será que os tomadores de decisões já quiseram falar alguma coisa para alguém, mas não puderam, porque eles estavam no estado de transe que só o amor é capaz de proporcionar?

E será que os que são contra o casamento gay já colocaram as mãos no ombro de alguém e pensaram com eles mesmos: “eu poderia morrer aqui, feliz”? Será que essas pessoas já olharam para alguém e gritaram: “Tudo o que eu quero é me casar com você!”? Será?

Eu não estou falando de gays. Estou falando de seres humanos, e acima de todas as coisas, de amor. Ninguém deveria, em qualquer momento, ser privado do único sentimento capaz de salvar o espírito. Amor.

Dentre todas as coisas odiáveis que o mundo oferece, o amor escapa. Não é possível odiar o amor. O amor não se explica, não se descreve, muito menos se odeia. O amor só se manifesta.

Por isso, vocês que são contra o casamento gay, meus caros conservadores:

Procurem alguém para amar imediatamente. E então, quando vocês sentirem um embolado de tremeliques, batidas cardíacas descompassadas, arrepios e a vontade inexorável de passar o resto de suas vidas ao lado de alguém... só então, vocês vão entender o sentido.

Neste meio tempo, pense que as futuras gerações vão olhar seu retrato em um livro de história e pensar: “quão atrasados fomos”.

Fica aqui o meu mais sincero suporte a todos aqueles que, acima de tudo, não perdem a capacidade deixar o amor tomar conta.

Saturday, March 20, 2010

O Papa é punk!


Leitores,

Eu geralmente não escrevo opiniões sobre o mundo, basicamente porque sou muito egocêntrica pra isso. Meu mundo sou eu, então eu escrevo sobre mim. Acontece que, nestas últimas semanas, uma mesma notícia em jornais de todo mundo vem martelando minha cabeça:

Padres pedófilos.

Há! Só agora a indignação?

Vamos começar pelo caso de Oliver O’Grady, padre nascido na Irlanda que fez carreira no norte da Califórnia e já admitiu ter molestado aproximadamente vinte cinco crianças – meninos e meninas. Os abusos de O’Grady na Califórnia vão da década de 70 até 90, ou seja, quase vinte anos de estupros que seguem impunes.

A arquidiocese da Califórnia, ao saber dos casos sobre O’Grady, pediu o silêncio das vítimas e transferiu o padre para outra paróquia do mesmo estado – aonde Oliver continuou a molestar crianças. E assim, de paróquia em paróquia, padre O’Grady continuou sua série de estupros por debaixo da barra da saia da igreja católica.

Papa Bento XVI foi informado sobre as atitudes de Oliver e, tão eficiente quanto um tubarão no deserto do Saara, fez porra nenhuma.

Familiares das vítimas estupradas por O’Grady tentaram processar o Vaticano e o Papa por conspiração. Mas aí é que vem a melhor parte desta história: presidente dos Estados Unidos, na época, George W. Bush, rapidamente passou uma lei que proíbe qualquer processo contra Bento XVI nos Estados Unidos. Sim, o Papa é imune, impune e sagrado.

Qualquer outro estuprador estaria na prisão diante de provas, testemunhas e testes de DNA. Oliver O’Grady, no entanto, continua livre, hoje em Dublin.

Agora, essa semana a coisa explodiu: são casos sobre padres estupradores por todos os lados: Alemanha, Áustria, Estados Unidos, Austrália e Brasil são os mais gritantes.

Meu desprezo pela igreja católica vai muito além do estupro de criancinhas: essa é a instituição que queimou mulheres sem qualquer motivo, apoiou a escravidão, luta contra o casamento gay, contra o uso de contraceptivos e camisinha... E claro, o aborto não poderia ficar de fora. Esta, meus caros, é a sagrada igreja católica.

Também na semana passada, a filha de um casal de lésbicas americanas foi expulsa de um colégio católico nos Estados Unidos. O motivo? As mães da menina são homossexuais. Plausível, não?

“Quem mandou você escolher uma lésbica pra dar a luz a você? Sua semente do mal!”

Eu não estou inventando essas coisas! Acreditem: eu invento a maioria das minhas estórias, mas as bizarrices da igreja católica, essas não sairiam da minha cabeça nem que eu tentasse a base de chá de lírio.

Meu ponto aqui, sem ser diplomata sobre o assunto, é:

Católicos, se vocês continuarem a ir a igreja, vocês são extremamente burros!

Tirando o fato de eu ser uma atéia assumida, eu não quero convencer ninguém sobre a não existência do além, ou sobre como Jesus nunca existiu. Não. Acreditem nas balelas da Bíblia. Mas, puta que o pariu, parem de dar suporte a uma das instituições mais atrasadas, preconceituosas e maldosas da história!

Sunday, March 14, 2010

Desabafo de uma editora júnior frustrada


É, o punk morreu e o comunismo deu errado. Desculpe-nos Marx, e perdão Lênin: o mundo é, oficialmente, capitalista. Muito por conta do capitalismo é que o punk está morto. Se você conhece Green Day, consegue fazer a conexão entre os fatos por conta própria.

Nós, os defensores do mercado livre, vencemos. Agora temos Slumdog Millionaire ganhando Óscares e Avril Lavigne vendendo CDs. Ah, capitalismo, você me mata.

Mas eu me recuso a imitar Adorno nesse texto. Meus problemas vão além da relação arte vs. capitalismo. O drama da vez é ser subestimada.

Vejam vocês, depois de muito falhar em vários empregos, desenvolvi minha própria teoria sobre o porquê do mercado de trabalho ser um saco. Aliás, mais que um saco, o mercado de trabalho não funciona.

Eu já trabalhei em agências publicitárias, canais de notícias, TV a cabo e empresas de produção – entre elas, a Universal Studios.

O esquema das empresas do mundo criativo é o seguinte: eles te contratam como estagiário após você terminar a faculdade. Você está lá, com seus 22 ou 23 anos. O mundo é um poço de inspiração para alguém aos vinte poucos anos. A criatividade é radiante.

Para explicar melhor: vocês já observaram um filhote de cachorro? O filhote fica encantado com as coisas mais bestas: se embola embaixo do lençol e fica doido tentando sair dele, corre atrás de folhas de árvore na praça, pula em tudo, acha demais quando as ondas da praia molham as patinhas dele... entre outras gracinhas de filhotes.

Aos vinte poucos anos, você é um filhote.

Se chefe, um cara com seus quarenta e poucos anos, é um cachorro velho.

Vocês já observaram cachorros velhos?

Os cachorros velhos não caçam mais, não pulam e quase não latem. Ficam lá, comendo e dormindo. O mundo de um cachorro velho não é muito interessante. Eles já sabem que as ondas do mar vêm e vão, que se eles se embolarem num lençol vão demorar pra sair dele, que folhas de árvores não são muito legais... entre outras chatices de cachorros velhos.

Com o passar dos anos, o ser-humano cansa também.

Lembro-me de quando estava na agência Laser, aqui mesmo em Fort Lauderdale. Eu trabalhava na sala ao lado do Joe. O Joe era um cara de uns setenta e poucos anos que fazia parte do departamento de contabilidade. Ele já era aposentado, mas continuou trabalhando para pagar a faculdade do filho.

Uma vez, a secretária do chefe trouxe bolachas e coca-cola pra comemorar os 20 anos da agência. Ao ver aquilo, eu pulei da cadeira e gritei:

- Bolacha com coca-cola!

Meu dia se tornou tão mais alegre!

Olhei pra cara de bulldog cansado do Joe, que nem se mexeu ao ver as bolachas, e falei:

- Joe! Tem bolacha com coca-cola no saguão. Vai lá antes que acabe!

A resposta do velho foi, em palavra por palavra, esta:

- Ah, eu já comi tanta bolacha. Já tomei tanta coca-cola. Vai lá você que ainda se anima com isso.

Taí a prova! Eu só tenho 24 anos. Passei menos de um quarto de século comendo bolacha e tomando coca. Ainda é novidade. Mas o Joe, esse já tá com quase três quartos de século nas costas. O pinto não sobe mais, as pernas já não agüentam andar muito e o cabelo já caiu. Ele não tá pensando em bolacha. Ele tá é pensando em viagra, fisioterapia e implante capilar.

Acontece que, no mundo corporativo criativo, você precisa ser velho para ter algum poder de decisão. Ninguém vai deixar um estagiário editar um vídeo que vai ao ar. Você, aos vinte poucos anos, nunca vai lançar uma campanha. E esqueça sobre fazer um logo para uma empresa minimamente grande.

Tudo que acontece no ramo do entretenimento e da publicidade tem que passar por um artista sênior (o nome já explica a idade do cara que tem esse cargo) e, depois, pelo diretor de arte. Se aprovado, o que é raro, seu trabalho vai para o diretor de marketing. O diretor de marketing nunca vai aprovar de primeira. Ele te manda mil correções em um e-mail e pede para que elas estejam prontas em três horas. Você quer se matar.

Três horas mais tarde...

...Você manda o novo trabalho para o artista sênior, que manda para o diretor de arte, que manda para o gerente de marketing - que agora aprova, que manda para o CEO, que te passa um e-mail com mais mil correções.

Esse é o ciclo.

Dois meses mais tarde...

...Você ainda não terminou o projeto. Agora o gerente de marketing está falando pro artista sênior que o vermelho tá muito vivo, tem que ser vinho. O CEO quer saber porque a atriz tem olhos verdes e não azuis. O diretor de arte está comendo a atriz. Quem liga pros olhos quando a bunda é boa? E você não tá fazendo porra nenhuma porque, afinal, você é só um estagiário sem qualquer voz naquela empresa.

Com sorte, eles te contratam. Você é editor júnior* agora – o que significa que você continua sendo um estagiário, mas agora eles são obrigados a te pagar alguma esmola. Você fica lá sendo editor júnior por um ano ou mais. Com sorte, em dois anos, você vira editor. E aí você fica sendo editor até o editor sênior morrer ou ser demitido. É isso. Fim da sua carreira.

Talvez, com muita muita sorte mesmo, quando você estiver lá pelos seus cinqüenta e poucos anos, você chegue a ser diretor de alguma coisa. Mas aí... Lembram do cachorro velho?

Aos cinqüenta, salvas raras exceções, você quer mais é que o mundo se foda. Você vai estar escolado, gasto, engolido e vomitado pelo esqueminha “agência”. Você não vai querer pensar em campanhas revolucionárias, porque, muito provavelmente, você estará preocupado em como a sua filha vai encarar a faculdade ou com um divórcio em potencial. Sua cabeça cansada precisará de férias e caipirinha. Seu corpo vai querer massagens e quem sabe até fisioterapia, por causa da sua escoliose.

O programa de funcionários em empresas criativas está matando a parte “criativa” da coisa. É por culpa desse sistema que comerciais de TV estão cada vez mais chatos, campanhas publicitárias são cada vez mais sexistas e bobas, modelos são cada vez mais magras e nojentas; e, por fim, a TV está um lixo.

É claro que a experiência é importante. Existem diretores de arte brilhantes com seus setenta e poucos anos, eu sei disso. Mas, mundo criativo, se só por um momento vocês olhassem fora das suas bolhas multimilionárias e cheias de fórmulas para o sucesso, vocês veriam que existe um mundo de jovens que não são retardados e que, por serem jovens, têm mais tempo para ser criativos. Não esperem até que nossas colunas doam, até que nossos filhos cresçam, até que nossos cérebros cansem... A hora é agora!

Obviamente, eu não conseguiria fazer com que um só diretor de marketing lesse esse meu desabafo, porque editora júnior é paga pra logar fitas, não pra ter opinião. Daqui 20 anos, quando eu for bem treinada a não ter opiniões, eles me deixarão dar uma palavrinha ou outra.

*júnior
jú.nior
adj (lat juniore) Mais moço. (Usa-se depois do nome de uma pessoa, para distingui-la de outra, mais velha, da mesma família, que tenha o mesmo nome.) sm Esp Designativo dos que pertencem à turma dos concorrentes mais moços. Antôn: sênior.

Wednesday, March 10, 2010

Presente para o Scott


Eis aqui a pintura que meu marido, o Mike, fez. Nosso querido Scott.

Friday, March 5, 2010

Você tira o chapéu para o tráfico de drogas?


“Eu tiro, seu Raul! Eu tiro!”

Agora eu pergunto: existe algo mais idiota do que temas sociais no chapéu?

O “chapéu” foi o primeiro quadro de programa televisivo que permitia ao telespectador o prazer esporádico de ver alguém famoso detonando outro alguém famoso.

Honestamente, acho gente famosa um saco! Não importa quem, não gosto nem dos famosos que eu acho legais. Sei lá, famoso enche o saco, fica causando, vira e mexe você descobre que o cara tinha esquema de tráfico de órgãos na África, ou simplesmente que ele se casou com uma mulher feia.

Na maioria das vezes, famosos são pessoas que ficaram ricas fazendo aquilo que eu e você conseguiríamos fazer muito melhor. Mas não, eles não precisam trabalhar das 9 às 5. Eles não precisam usar paletó no verão, eles não precisam fazer contas mágicas para pagar o aluguel e o IPVA no final do mês... E por quê? Porque eles tocam guitarras com calças enfiadas na bunda, ou somente usam a calça enfiada. Sabe o que acontece comigo se eu usar uma calça enfiada na bunda? Eu sou demitida!

Cansei de me decepcionar com os famosos! Por isso adoro quando eles são detonados na TV. Chamem de inveja, de gosto televisivo mórbido, de falta do que fazer, eu não tô nem aí. Quero mais é ver um detonando o outro.

Aí estou vendo aquele pentelho do Raul Gil, com aquele microfone dourado enfiado entre o peito e o queixo - já que ele não tem qualquer pescoço -, aqueles jurados que pararam de comprar roupas nos anos 80... e eu lá! Esperando pelo chapéu. Aí me vai um filho da puta e tira o seguinte chapéu:

“PROSTITUIÇÃO INFANTIL”

O quê?

Isso é ridículo! Temas sociais no chapéu deveriam ser proibidos por lei nacional! Eu quero ver o Luciano do Valle descendo o cacete no Milton Neves – porque, de fato, o Milton Neves sucks... e sucks muito hardcore!

Nessas horas eu tenho vontade de aparecer igual o Marshall McLuhan apareceu em “Noivo neurótico, noiva nervosa” e dizer:

“Eu tiro, seu Raul. Eu tiro!”

Cara, que coisa mais estúpida! É claro que ninguém vai tirar o chapéu para a prostituição infantil, tráfico de drogas, criminalidade, desigualdade social, ônibus lotado – ah, esse não, porque famoso não pega ônibus.

Enfim, se o tema é prostituição infantil, o famoso deveria falar:

“Olha seu Raul, eu tiro sim. Acho que em um mundo tão desigual, nada é melhor do que o sexo inocente. E criança é mesmo um ser inocente. Ganhar dinheiro fazendo amor desde cedo é considerado crime mas... Se você reparar, verá que existe algo muito lindo em tudo isso.”

Pensando em tudo que já me indignou em pelo menos 15 anos de “Chapéu”, criei três tipos de respostas que vivem remoendo dentro de mim para os temas sociais no chapéu. Lá vão elas:

VOCÊ TIRA O CHAPÉU PARA AS DOENÇAS VENÉREAS?

Eu tiro, seu Raul! Eu tiro! Porque sem as doenças venéreas, os homens não se preocupariam em não trair suas esposas. Doenças venéreas são um alerta natural para o perigo da luxúria! O homem cristão deve saber que não pode sair por aí traçando qualquer rabo de saia, porque pode pegar uma doença. As doenças venéreas estão para a sociedade moderna tal qual as sete pragas estavam para o Egito! Por isso, sim, eu tiro o chapéu para as doenças venéreas!

VOCÊ TIRA O CHAPÉU PARA A CORRUPÇÃO NA POLÍTICA BRASILEIRA?

Eu tiro, seu Raul! Eu tiro! A corrupção neste país é absolutamente importante para o povo brasileiro. Sem a corrupção, o brasileiro perderia toda essa capacidade de lutar, toda a humildade de saber que nasceu pobre, continua pobre e vai morrer pobre. Eu diria ainda que, a causa deste espírito humilde e conformado do povo brasileiro que tanto agrada gringos e gringas de todo o mundo é a corrupção que trabalha fortemente para manter este povo assim: contentado com pouco e fazendo churrasco na laje em um sobradinho da Avenida Cupecê. Por isso, sim, eu tiro o chapéu para a corrupção neste país!

VOCÊ TIRA O CHAPÉU PARA O PRECONCEITO?

Eu tiro, seu Raul! Eu tiro! Sem preconceito nós não teríamos Cláudia Schiffer, uma pura raça de primeira, hein, hein seu Raul? Quando começou essa mistura toda, devemos admitir que o mundo ficou mais feio. E eu, como um esteta nato, prefiro Cláudia Schiffer a Carla Perez, e o Sr. há de concordar! Pô, vai comparar um Antônio Banderas a um Vampeta? Não dá, seu Raul. Preconceito e xenofobia são as maiores armas que nós, cidadãos estetas que somos, temos para usar contra um mundo de misturas tão mal resolvidas! Por isso sim, eu tiro o chapéu para o preconceito!

E ponto, e fim!

Tuesday, March 2, 2010

Mãe? Você não tinha morrido?


Freud diz que você tem que matar o pai (eu sei, ele não fala assim, desse jeito esdrúxulo, mas eu estou simplificando pra encurtar). Veja que sacada de gênio. Claro que ele tinha que ficar famoso.

Matar o pai. Termo forte.

Aí vem Jung dizendo que você tem que matar a mãe.

Ah, a psicologia e suas chacinas familiares.

Eu tinha matado a minha mãe... Até que ela descobriu a internet.

Comecei a receber e-mails da minha mãe. Ela estava choramingando, falando que estava arrependida, que tinha perdido uma filha e coisa e tal.

Minha mãe é uma dessas místicas que acredita em tarô, os astros, a lua, o além, o Deus Rá, etc.

Na verdade, não sei se ela acredita no Deus Rá. Mas vocês sabem o tipo de figura da qual eu estou falando, não?

Recebo um e-mail:

“Filha,

Fui numa vidente que a Bárbara indicou. A mulher é foda. Ela falou que você é filha de Oxum com Obaloaê. Tem que acender uma velinha pro seu santo, filha!

Por aqui, tá tudo bem. a aMANDA ESTA LINDA E TE MANDA UM BEIJO.

POR QUE AS LETRAS FICARAM GRANDES E OS ACENTOS SUMIRAM? BOSTA! AMANHA DESCUBRO.

BEIJO,

MAMAE”

Pergunta: como um ser desses pode ter saído de dentro da vó Zeni?

Resposta: Expliquem essa agora, Freud e Jung!

Freud, Jung... Há! Queria eu ver esses dois tentando entender Oxum, Obaloaê, Erê, tarô, macumba, letras grandes no computador e os comentários infames da minha mãe sobre a novela das oito.

Essa, meus caros, nem Freud explica.

Para piorar a situação, a tia Tânia também fazia parte da turminha da macumba. Uma vez ela me disse que Jesus era um alienígena e que Maria tinha sido, na verdade, abduzida. Um extra terrestre inseminou a Maria artificialmente, então Jesus era meio humano, meio alienígena.

Quando escutei essa, eu tive vontade de tirar meu sobrenome do papel. Pensei: “Eu não quero ser uma Sbaile. Eu não vou fazer parte desse clã de doidas. Preciso me casar logo com alguém normal e mudar meu sobrenome.”

Depois do primeiro e-mail, minha mãe começou a ficar mais sofisticada: mandava fotos e letras de música dos Gypsy Kings. Ela tinha aprendido a copiar e colar.

Eu quase nunca respondia.

Foi então que ela descobriu uma das coisas mais cavernosas da internet depois de vírus (caso você ainda use Windows); o e-mail Power Point.

O e-mail Power Point parece inocente. Mas é, na verdade, uma arma de mães por todo mundo que querem levar seus filhos à loucura.

Abro a caixa de e-mail.

“Você tem 25 novos e-mails de Adriana Sbaile”.

Não acreditei.

Os títulos são os mais bizarros:

“O Papa e o Negão”.

“O Padre e o cú” (eu nem quero imaginar as imagens que vêm com um Power Point intitulado assim).

“A corrente de São Sebastião das causas impossíveis”

“Mulher com câncer tem filha aidética de marido viciado em craque e faz a vida valer a pena”.

Eu fico pensando: quem inventa esses e-mails?

Esses Power Points têm que ter um início. Existem alguém, que algum dia fica entediado e pensa:

“Nossa! Aquela história da mulher com câncer que tem uma filha aidética do marido viciado em craque, vai dar um Power Point incrível. Tudo o que eu tenho que fazer é encontrar algumas imagens de resolução mínima no Google e criar essa apresentação com o fundo mais brega que eu achar. Depois eu mando isso para minha lista de 769 amigos que conheci no Orkut.”

Mas aí tem a sacada: o criador de e-mails Power Point ridículos tem que ficar popular. Então ele termina o e-mail com a última página assim:

“Mande este e-mail para 20 pessoas da sua lista e sua vida começará a valer à pena. Caso você ignore este e-mail, amanhã você acordará com câncer, seus filhos terão AIDS e seu marido começará a usar craque.”

E é esse o ciclo. Porque, se amanhã eu acordo cancerígena com uma filha aidética e um marido viciado em craque; eu vou, muito provavelmente, terminar com meu rosto estampado em um Power Point na caixa de e-mail de milhares de pessoas.

Você me entende, leitor? Esse é o intuito do criador de e-mails Power Point. O ciclo nunca pode terminar.

Eu tinha que dar um fim naquele ciclo!

Liguei pra minha mãe:

- Mãe, você tem que parar de me mandar esses Power Points!
- Ah, você não gosta? Eu acho tão bonito.
- Eu não gosto.
- Você viu aquele da mulher morrendo no hospital que adotou um cachorro de rua e curou a sarna dele?
- Mãe... na boa...
- Aquele é bem interessante. Mas sabe, filha... Eu preciso de ajuda.
- Há! E só agora você se deu conta disso?
- Meu teclado tá doido.
- Ah, esse tipo de ajuda...
- A letra “z” sumiu. Agora tenho que escrever tudo com “s”. E pra explicar para as pessoas que o “z” sumiu? Eu tenho que falar: estou sem a última letra do alfabeto no teclado. E aí...
- Mãe. Chega. Sério!
- Você acendeu uma velinha pro seu santo?
- Mãe, você sabia que Jesus era meio alienígena, meio humano? A Maria foi abduzida por extra-terrestres que fizeram uma inseminação artificial nela.
- Jura?
- Tchau, mãe.
- Mas...

Desliguei.

No dia seguinte:

“Você tem 32 novos e-mails de Adriana Sbaile”

PS - Mãe, te amo. Antes de você ler esse texto, ficar puta da vida e encher minha caixa de e-mail com motivos pelos quais você não é uma mãe ruim, espere até ver o que eu escrevi sobre o meu pai (porque eu sei que você lê o blog e ele não!). E ah, obrigada por me depositar o dinheiro. E ah, ainda não acendi a vela. E ah, não tenho como assistir a novela daqui.